domingo, 18 de novembro de 2007

3 - Gnose






Gnosticismo designa o movimento histórico e religioso cristão que floresceu durante os séculos II e III, cujas bases filosóficas eram as da antiga Gnose (palavra grega que significa conhecimento), com influências do neoplatonismo e dos pitagóricos, sendo considerada a filosofia dos magos, e busca um conhecimento completo e transcendente da Natureza, formando o corpo de uma alta Teologia.. 

Os gnósticos lançaram mão de todo o conhecimento da filosofia clássica grega, oriental e egípcia, da doutrina cristã, da Cabala judaica, etc., tendo como regra que a psique ou mente existe como fonte de conhecimento, e que tudo pode ser questionado, explicado e compreendido através da razão e da lógica.
 
Este movimento revindicava a posse de conhecimentos secretos (a "gnose apócrifa", em grego) que, segundo eles, os tornava diferentes dos cristãos alheios a este conhecimento.


Gnose ou Gnosis é um conhecimento que brota do coração de forma misteriosa e intuitiva (REVELAÇÃO PESSOAL).

É a busca do conhecimento, não o conhecimento intelectual, mas aquele que dá sentido à vida humana, que a torna plena de significado, porque permite o encontro do homem com sua Essência Eterna. (onde a Alma regressa a Região da Luz/ Pistis Sophia)

O objeto do conhecimento da Gnose seria Deus, ou tudo o que deriva d'Ele. Para seus seguidores, toda Gnose parte da aceitação firme na existência de um Deus absolutamente transcendente, existência que não necessita ser demonstrada. "Conhecer" significa SER e ATUAR (na medida do possível ao ser humano), no âmbito do divino.

A Gnose considera alegoricamente que havia no Universo um “Krater cheio de nous” (uma taça cheia de conhecimento), e que certos homens, cujo coração procura verdadeiramente o Conhecimento elevado, podiam mergulhar nesse Krater e, desse modo, adquirir o Conhecimento e alcançar a Verdade.

Consequentemente, essa busca de conhecimento e da verdade, não se conformava com dogmas – proposição apresentada como incontestável e indiscutível - e buscaram sempre uma nova visão, novas respostas, novos conceitos.

Desse modo, foram perseguidos pela Igreja Romana, mesmo porque em diversas ocasiões, os gnósticos tinham um conhecimento profundo sobre os Mistérios que a Igreja sempre tentou encobrir com suas alegorias e dogmas de fé, como é relatado a seguir, sobre uma tradução feita do Evangelho de João que é a seguinte:

"no começo era a Mente e a Mente estava em Deus.
...a Mente era Deus. Assim era no início, com Deus
Tudo foi criado por ela; e fora dela nada teve existência
A Vida nela foi criada; e a Vida era a Luz dos verdadeiros homens..."

“ O tradutor desses versos...foi um seguidor moderno da Gnose, um eminente erudito inglês... A versão autorizada, contida no Novo Testamento, foi feita por homens que consideravam o Gnocismo ‘herético’. Graças à sua tendência antignóstica, eles traduziram o texto grego de forma a não deixar aparecer no texto inglês o verdadeiro sentido do original, neste que é um dos poucos fragmentos na atualidade do cânone do Cristianismo exotérico que escapou ao zelo iconoclasta dos que anatematizaram os Gnósticos e destruíram todos os manuscritos valiosos da Cristandade que caíram em suas mãos. Felizmente, alguns poucos manuscritos escaparam, e entre eles estão o Codex Bruce, agora cuidadosamente guardado na Biblioteca Bodleian, em Oxford, e o Codex Berlin, em Berlim.”
O Livro Tibetano da Grande Liberação - pg. 16158 – Editora Pensamento


A Doutrina gnóstica ou gnosticismo tornou-se forte influência na Igreja primitiva levando muitos cristãos da época como Marcião (160 d. C.) e Valentim de Alexandria a ensinar sobre a cosmovisão dualista, a qual  aparenta ser a premissa básica do movimento.

O pré-requisito essencial da filosofia gnóstica é o postulado da existência de uma "entidade imortal", que não é parte deste mundo, que pode ser chamado de Deus interno, Ser imortal, divina essência, etc. que existe em todos os homens e é a sua única parte imortal.

Os gnósticos consideram que o estado do homem neste mundo é "anti-natural", pois ele está submetido a todo tipo de sofrimentos. Para a gnose, é necessário que o homem se liberte deste sofrimento, e isto só pode ocorrer pelo conhecimento.

 
Os gnósticos, de um modo geral, acreditam que o Universo manifestado principia com emanações do Absoluto, seres finitos chamados de Æons que se reúnem no Pleroma.

No princípio tudo era Uno com o Absoluto, então em um determinado momento, emanaram do Absoluto estes æons (éons), formando o pleroma.

O pleroma dos gnósticos é um plano arquetípico, abaixo do qual está o plano material, manifestado. Assim, o que antes era Uno e vivia no pleroma, se despedaça em partes. Este estado de infelicidade, pela descida no pleroma (e separação do Todo Uno), é o que ocasiona o sofrimento do homem neste mundo.


Um dos éons (Sophia) deu à luz o Demiurgo (artesão em grego), que criou o mundo material "mau", juntamente com todos os elementos orgânicos e inorgânicos que o constituem.
Os gnósticos ensinavam que a salvação vem por meio de um desses éons, geralmente apresentado como o décimo terceiro éon (identificado com o Cristo), distinto dos doze éons que regem o mundo decaído.

Segundo a doutrina, Cristo se esgueirou através dos poderes das trevas para transmitir o conhecimento secreto (gnosis) e libertar os espíritos da luz, cativos no mundo material terreno, para conduzi-los ao mundo espiritual mais elevado.

Segundo algumas linhas gnósticas, Cristo não veio em carne e nunca assumiu um corpo físico, nem foi sujeito à fraqueza e às emoções humanas, embora parecesse ser um homem, enquanto a principal linha de gnosticismo cristão, a Valentiniana defende a tese próxima do nestorianismo doutrina cristã, nascida no Século V, segundo a qual há em Jesus Cristo duas pessoas distintas, uma humana e outra divina, sendo Cristos (o ungido) o éon celestial que a um tempo se une a Jesus.


Alguns historiadores afirmam que o apóstolo João se refere a esse assunto quando enfatiza que "o Verbo se fez carne" (Jo l .14) e em sua primeira epístola que "todo o espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus..." (l Jo 4.3).

Os escritos joaninos são do final do primeiro século, quando nasceu o gnosticismo. No entanto, muitas comunidades gnósticas tinham o Evangelho de João em alta conta, o que contraria esta tese.

Para que o homem possa se libertar dos sofrimentos deste mundo, segundo os gnósticos, ele deve retornar ao Todo Uno, por ascensão ao pleroma, e isto só pode ser alcançado pelo Conhecimento Verdadeiro (representado pela Gnose).


 
 
Credo Gnóstico


Eu reconheço um grande e invisível Deus, não revelado

Não marcado, sem idade e impronunciável;
O Pai Não conhecido, o Eon dos Eons
A Causa Silenciosa, com Sua providência:
O Pai, a Mãe e o Filho.

Eu reconheço o Cristo, o auto-gerado Filho vivente

A Glória do Pai e a Virtude da Mãe
Que foi nascido da virginal e impronunciável mãe
Foi feito carne, aquele que é o Perfeito.
Aquele que na Palavra do Grande Invisível Deus,
Procedeu do Alto para anular o vazio desta era
E restaurar a completude ao Eon.

Eu reconheço o Espirito Santo, a Noiva do Cristo

A Mãe dos Eons, a Grande Virgem inefável
Mãe que procede dela mesma um presente d’Ela
Nascida do Silencio do Deus Não conhecido.

Eu reconheço a Luz de uma Igreja em todos os lugares

Interior, Invisível, Secreta e Universal,
As fundações das luzes do Grande Deus Vivente.
Eu almejo a liberação da minha perfeição das corrupções
Do mundo e procuro o resgate das faíscas de Luz do
Mar do Esquecimento.
Amém.

 

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