terça-feira, 15 de abril de 2014

Batismo




Em tópico de uma comunidade um representante da ICAR (um padre) respondeu à seguinte pergunta:

“O que é preciso para ser filho de Deus?

Ser batizado em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Quem não foi batizado, é mera criatura de Deus.
A diferença entre ser filho e criatura, é que o filho tem direito à herança do Pai.
Já a criatura, não tem direito algum.”

Em outro momento do mesmo tópico esse representante da ICAR afirma que:
“Jesus Cristo sempre enfatizou a necessidade do batismo para a salvação.”

Será mesmo?

O Sacramento do Batismo foi formulado para “purificar” o pecado original, cabendo a São Cipriano (258 d.C) a tarefa de criar o dogma do batismo inspirando-se em João Batista – um essênio – que propagou a prática do batismo na Palestina, como ritual de sua seita que tinha analogia com as abluções do Bramanismo, do Budismo e do Judaísmo.

Os brâmanes tinham como costume a purificação pela água, e mergulhavam-se na água de manhã e à tarde, acreditando que todos os atos maus poderiam ser assim lavados literalmente. Certa vez um deles foi visitado por Gotama (o Buda) que lhe disse:
“A religião é um lago, ó brâmane! E a ética não é o batismo, límpido, estimado pelo maior dos sábios, no qual deve fazer suas abluções.”

Mas,  a confusão de opiniões sobre o batismo se arrastou por vários séculos. São Tertuliano (115 a 220 d.C) dizia que as crianças não precisavam ser batizadas por serem elas inocentes, e mesmo os adultos poderiam ser dispensados do sacramento se tivessem fé, concordando com Paulo que afirma que as crianças nasciam puras.

O Papa Pelágio (555 a 561) declarou ser necessário no batismo a invocação da Trindade; mas o Papa Nicolau I (858 a 867) dizia que bastava ser em nome de Jesus. O Papa Teodósio chegou a decretar a decapitação à todos os não batizados – um modo bem comum da Santa Igreja de converter os pagãos. A Igreja também muito frequentemente batizava e benzia canhões, espadas, navios de guerra e outras armas mortíferas.

Aliás, Maria, os apóstolos, e demais seguidores de Jesus nunca foram batizados, devendo, portanto, estarem agora na condição de criaturas de Deus sem o direito à herança do Pai – busquem nos Evangelhos se há alguma referência de Jesus batizando alguém, se ele considerava o batismo uma necessidade por que não praticou esse “sacramento” como fazia João?

A Igreja alega que Jesus foi batizado. Ora, se o batismo católico tem como objetivo central apagar o suposto pecado original, o batismo de Jesus realizado por João é um contra-senso, uma vez que a Igreja o apresenta como Filho de Deus – (como a 2° pessoa da trindade), afirmando ainda que ele é Deus. Devemos, portanto supor um outro motivo para o batismo de Jesus por João – não seria  apenas uma forma de Jesus indicar que João fazia parte de sua doutrina?

Em Mateus 1:9 a 11, Lucas 3: 21 a 22, João 1: 32 a 34, temos o relato do batismo de Jesus por João Batista.

Em Marcos 16:15 a 18, temos que Jesus depois de ressuscitar manda os discípulos irem por toda a parte pregando o Evangelho dizendo:
v. 16 – que, crer em mim e for batizado será salvo, quem não crer será condenado.
v. 17 - Estes sinais seguirão os que crêem:
            Em meu nome expulsarão os demônios.
            Falarão línguas novas
            Pegarão em serpentes
            Se beberem alguma coisa mortífera não lhes fará dano algum
            E porão as mãos sobre os enfermos e os curarão.

Isso soa familiar?

A Bíblia da CNBB comenta Marcos 16:9 a 20:
“Esse trecho difere muito do livro até aqui, por isso é considerado obra de outro autor....” Mas que autor? Seria ele São Cipriano – Bispo de Cartago mártir em 258 d.C? Sei não.....

Lucas, Mateus e João nada falam sobre a necessidade do batismo, apenas relatam as atividades de João realizando batismos. (Marcos 1:1 a 8, Lucas 3:1 a 18, João 1: 6 a 8 e 19 a 36, Mateus 3:1 a 11”)

Respondeu João à todos, dizendo: “Eu na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu... esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo.”
Lucas 3:16 e Mateus 2:11

Em Atos 1:5 , temos o seguinte:
“Porque na verdade João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo não muito depois destes dias.”

Em a Atos 2:1 a 13, temos o relato do dia do Pentecostes, quando todos reunidos, vem do céu um forte vento, e línguas de fogo posaram sobre as cabeças dos apóstolos, e todos começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia falar. (é interessante ler tudo – como também a profecia de Joel cap.1:15, cap. 2:2 cap. 2: 28 a 32,)

Na realidade, o Espírito Santo sempre que se manifestas (nos textos bíblicos), acontece uma ampliação do conhecimento, e fala-se daquilo que não se “sabe”, ou que não teria meios de saber:
Lc.1:15 – João Batista é cheio do Espírito Santo
Lc. 1:41 – Isabel é cheia do Espírito Santo e reconhece Maria como mãe de Jesus.

O Espírito Santo quando atua sobre alguém, produz o Conhecimento da Verdade, é uma Iluminação, um verdadeiro Batismo de Fogo, um  alargamento da Consciência. Simbolizado por uma pomba, cuja alegoria devemos buscar no conceito de que o Espírito Santo  era representado pela ave Astarte – a pomba, também chamada Sophia – do grego significa Sabedoria, sendo o Logos feminino dos gnósticos, a Mente Universal, a Sabedoria Divina personificada.

Temos então que o Batismo a que se refere Marcos, não é o batismo com água, mas o Batismo de Fogo ou Iluminação - Sabedoria, o qual poderá ser obtido através da compreensão profunda da doutrina que Jesus deixou somente aos seus adeptos mais próximos, a doutrina que é a “água da vida”.

Esse mesmo conceito encontramos no Budismo– onde a busca é a Iluminação, o estado de
Buddha  (Sánscrito).-  Literalmente: "o Iluminado".  O mais alto grau de Conhecimento dos completamente despertos e purificados – a Emancipação Final alcançando o Estado Perfeito no plano do Nirvana – ou seu equivalente cristão da redenção ou ressurreição.

O Zem utiliza o termo Satori que também significa Iluminação.

E no Hinduismo no estado de Mokcha ou Moksha (Sânscrito) literalmente “Libertação” “Desligamento”, “Salvação”, “Beatitude” e  “Emancipação”,   dos vínculos da carne, da vida e das dores na terra. Neste estado, o Espírito isento de uma nova reencarnação, é absorvido pelo Espírito Universal, alcançando assim o Nirvana.

Enquanto o ocidente crê na salvação pela graça de Deus – uma dádiva que vem dos céus, por aceitarem uma só vida, e o dogma de que fora da Igreja não há salvação, o oriente entende que a salvação é conquista pessoal e individual, evolução e aprimoramento mental-espiritual até o mais alto nível, a do budado ou Iluminação, estando muito mais à vontade de assumir essa idéia por aceitarem sem restrições a reencarnação.

“Sem o conhecimento não existe meditação, sem meditação não existe o conhecimento. Aquele que possui tanto o conhecimento quanto a meditação está próximo do Nirvana.” O Buda

Voltando então ao Batismo como rito de Purificação, este era celebrado durante as cerimônias de Iniciação em tanques sagrados da Índia, idêntico ao rito estabelecido por João Batista e praticado por seus discípulos essênios. (ver tópico – Iniciação)

Ninguém, diz A. Besant, pode alcançar as sublimes mansões onde moram os Mestres sem haver passado pela estreita porta da Iniciação, a porta que conduz à vida eterna.  Para que o homem possa cruzar os umbrais dessa porta, há de ter alcançado o mais alto grau de evolução, a ponto de não mais ter interesse em tudo o que pertence à vida na Terra, salvo o poder de servir com toda abnegação aos Mestres e ajudar na evolução da humanidade, mesmo à custa dos maiores sacrifícios pessoais.

Eu sou a porta, eu sou o caminho. Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me – disse Jesus.

O processo Iniciático acompanha uma expansão da consciência o que se chama “a nave do conhecimento”, que é também a nave do poder, pois nos reinos da Natureza “saber é poder”.

Se resta ainda alguma dúvida, quero lembrar que os Batizados de Marcos têm como sinal poderes especiais:  expulsarão os demônios, falarão línguas novas, pegarão em serpentes, se beberem alguma coisa mortífera não lhes fará dano algum, e porão as mãos sobre os enfermos e os curarão – como Jesus fazia !!!!!!!!!!! curar mesmo sem sombra de dúvida, fazer paralítico andar, cego ver e morto levantar, total domínio do Espírito sobre a matéria. Os Batizados pela ICAR têm esses poderes?

Quero ver os “Batizados” que se dizem ungidos pelo “Espírito Santo” realizarem verdadeiramente todas essas proezas.... Falar língua estranha que ninguém entende até um bebê consegue, expulsar demônios ????? os terreiros de Umbanda também fazem, e nem por isso se dizem “ungidos”. Bebam um copo de cicuta, por favor, para provar que estão sob a influência do Espírito Santo.
                                                                                                               
Manipular o Sagrado é um crime sem precedentes.
Aceitar dogmas sem pensar é signo de ignorância.
          
Fontes –
Bíblia – tradução de João Ferreira de Almeida
Bíblia editada pela CNBB - 1990
Formulário de Alta Magia – P.-V.Piobb – Ed. Francisco Alves
Glosário Teosófico – H.P.Blavatsky – versão digital em espanhol
A Vida Oculta e Mística de Jesus – Leterre – Ed. Madras
O Livro Tibetano da Grande Liberação – W.Y.Evans-Wentz – Ed. Pensamento
Dinâmica do Inconsciente - Jung

4 comentários:

  1. Excelente post, nos faz refletir mais sobre nós.

    É um pensamento diferente da maioria porém muito interessante.

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  2. Esclarecedor, um post excelente e com importantes informações.

    Muito obrigado por suas elucidações!

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  3. grata por sua participação
    feliz que tenha apreciado :)

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  4. Muito bom, suas pesquisas revelam coisas que a religião ainda esconde.

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