Em todos os tempos sempre foi reservado ensinamentos e práticas a uma elite de adeptos cuidadosamente escolhidos entre os membros de confrarias, que se dedicavam ao estudo de uma ciência muito superior à comum.
Os teurgistas eram denominados pelos antigos gregos de Epoptas, e pelos hebreus, Reis Magos. Toda prática teúrgica apresentava um caráter secreto, e, portanto, inteiramente desconhecida. (fonte – FAM 20)
Essas confrarias ou colégios iniciáticos, tinham por norma o sigilo absoluto de seus ensinamentos, sendo incontestavelmente o núcleo da intelectualidade dos povos.
É importante lembrar que Moisés, antes de tudo, foi um grande Mago, como podemos verificar facilmente na passagem do Êxodo cap. 7 – que disserta sobre as pragas que ele lançou sobre o faraó e o Egito-, ele tinha uma vara mágica, e duelou com os magos do Egito, certamente, tanto Moisés quanto os magos egípcios foram Iniciados nas mesmas artes de Magia.
Fato semelhante ocorre com os Reis Magos que visitaram Jesus, como relata Mateus no capítulo 2, magos que vieram do Oriente, que segundo alguns, eram pertencentes ao colégio de Zoroastro.
“Desde seus começos, a Iniciação, por mais rudimentar que fosse, assumiu uma natureza rigorosamente secreta. Isto, pela muito simples razão de logo parecer inútil ensinar a indivíduos rudes, de inteligência pouco desenvolvida, uma matéria que eles não compreenderiam convenientemente.
Então, à medida que os colégios iniciáticos trabalhavam, que a Iniciação avançava e se tornava uma ciência, depois uma Alta Ciência, o distanciamento intelectual entre o iniciado e o profano permaneceu sensivelmente o mesmo. Com isso, os iniciados se tornaram uma elite em sua terra.
Sem dúvida, é verdade que eles compuseram um gênero aristocrático, no sentido grego da palavra. Também é exato, e assim registraram os historiadores, que nas épocas em que as associações iniciáticas se tornaram deveras importantes, conquistando um lugar exagerado na sociedade, algumas dentre elas ficaram insuportáveis aos profanos, o que lhes ocasionou ataques e perseguições judiciais.
Então – e não apenas uma vez, mas várias – os iniciados dispersaram-se, reagrupando-se novamente, reconstituídos, uns aqui, outros acolá; a dificuldade devia ser enorme para haver ‘coligação’. Em outras palavras, à falta de um fio condutor, surgiram várias diversidades, se não na Iniciação em si, pelo menos nas ‘correntes de idéias’ que, no correr dos séculos, difundiram-se através do mundo.” FAM – 21/22
“Quando, em decorrência de circunstâncias políticas, revoluções e guerras, os iniciados se dispersaram e tornaram a agrupar-se, formando novos núcleos, essa ‘profanação’ – no sentido exato da palavra – assumiu, necessariamente, uma ampla extensão. Religiosamente falando, cada um praticou – de modo profano – sua Magia particular. Sem grande força social, os iniciados não se empenhavam a fundo em impedi-lo, limitando-se geralmente a declarações algo veemente, excluindo os ‘profanadores’ do domínio em que, via de regra, era inscrita a ‘religião’ da época. A sentença pronunciada tomou o nome de excomunicação, nas eras cristãs; em realidade, sob outras denominações, ela foi aplicada em todos os tempos.” FAM - 24
“A iniciação consiste na elevação do pensamento ao máximo das possibilidades. Trata-se de pensamento, logo, de reflexão; por conseguinte, também de elementos de reflexão e ainda de fatos concretos ou abstratos, mas sempre patentes e, de qualquer modo, certos e explicáveis segundo um sistema que satisfaça à razão – e não apenas àquilo que bem se poderia denominar sentimento. Em vista disto, pode haver uma ciência iniciática que será, incontestavelmente, uma ciência – superior sem sombra de dúvida-, posto que ela fornecerá ‘as razões das coisas’, dessa forma resolvendo os problemas mais elevados da metafísica, respondendo todas as perguntas propostas pelo homem e que entrevê a ciência experimental e satisfazendo a razão inteiramente.”
FAM 27/8
“Assim sendo, o magista[1] via em concreto apenas os efeitos, cuja causa – de interesse unicamente seu – residia em um domínio inacessível pelos meios ordinários. Tal era reservado somente aos exercícios da inteligência, desta forma intangível ao comum dos mortais e ‘tabu’, se assim podemos dizer, para a massa desprovida de instrução suficiente. Não devemos tomar o magista por um matemático de profundos conhecimentos, a quem as abstrações são de tal modo familiares, que o fazem perder o concreto de vista. Entretanto, pelo exame das chaves – que não passam de fórmulas matemáticas – percebe-se claramente que a abstração (no sentido que damos hoje ao termo, cientificamente) era muito melhor manejada na antiguidade, que em nossos dias. É verdade que os meios matemáticos não eram os mesmos, em absoluto, mas existiam seus equivalentes... FAM 35
“O magista, no entanto em vista de suas considerações abstratas, passando de causalidades a causalidades, ultrapassando o domínio onde são consideradas as forças ordinárias da Natureza, passou a abordar as regiões onde se concebe a existência de energias diretoras do Universo.
Filósofo, ele poderia ter-se contentado em estabelecer um ‘sistema’ explicativo, ao qual o seu talento daria qualquer valor metafísico, caso o tivesse achado satisfatório. Voltado para a ciência e positivista de certo modo, ele preferiu permanecer ‘prático’.
...
Se existiu então uma teoria da Magia, segundo a qual ficavam estabelecidos os objetivos a serem utilizados na prática, é forçoso convir que, em si, ela teve um caráter universal.
Em qualidade, a universalidade se explica pelo fato de que as concepções abstratas, quando apresentam um caráter científico e não somente filosófico, não podem afastar-se muito de um ‘normal’, podendo-se então dizer que sua espécie é a razão.”
FAM – 36/7
Sobre a Doutrina da Alta Magia :
“Em seu estado mais elevado e, por conseguinte o melhor, a Magia resulta na aplicação de uma teoria relevante da ‘matéria iniciática’. Exposta em linguagem moderna, tal teoria é a seguinte:
A iniciação, no referente ao ensino filosófico, constituído de maneira lógica e racional, considera o Universo esférico.
Sendo a terceira dimensão a última que, na escala das ‘potências matemáticas’ pudesse permitir, ordinariamente, a representação do espírito humano, o Universo – ou ‘tudo que existe’ – é concebido como comprimido no interior de uma esfera, quer dizer, na figura geométrica apresentando o máximo de volume.
Estendendo a concepção ao extremo, esta esfera universal tem o infinito por periferia.
Os mundos estelares, compostos de uma estrela central (única ou múltipla) e de diversos planetas – movem-se no interior da esfera universal, pelo efeito das forças cósmicas.
Os seres de cada planeta – seres de cada reino da Natureza e de toda espécie – são constituídos e organizados em virtude da ação energética do astro que os carrega. Eles vivem – dotados de vida latente como os minerais ou de vida efetiva, como os vegetais e animais, segundo suas maiores ou menores possibilidades de movimento próprio – sempre em função de uma ação energética que, tendo sido extraída do astro que os carrega, lhes pertence, química e biologicamente, como coisa particular. Eles se reproduzem – caso permita suas condições de vida – igualmente, em razão da energia de que o organismo dispõe.
Existe então um encadeamento de seres – isto é, de ‘coisas que existem’ e de ‘modalidades de seres’ – em seguida o ser mais vasto, chamado Universo, indefinido em sua composição e infinito em sua configuração, passando pelos complexos estelares (que são definidos) e os planetas onde o concreto se torna tangível para quem quer que o habite, até o ser – seja ele organizado ou não – existente em um astro qualquer.
Tal encadeamento de seres, portanto, implica em movimento – não apenas para que cada um se desloque, mas também para que cada um seja construído ‘atômica e celularmente’, que cada um se desenvolva, evolua e se reproduza (caso seja necessário). E o movimento supõe uma energia motriz.
Nestas condições, em correlação com o encadeamento de seres no Universo, existe um encadeamento de forças, cujo caráter geral é cósmico.
Todavia, se existe um encadeamento de forças cósmicas no Universo – como uma espécie de rede, distribuindo energia por toda parte – necessária se torna a suposição de uma ‘usina central’ (como falamos comumente hoje em dia), que tenha o papel de ‘fonte de energia’.
Não é difícil conceber-se tal idéia, em vista da construção geométrica da esfera, porque toda esfera tem um centro, necessariamente. Essa ‘usina central’, como é lógico, só poderia encontrar-se no centro e, de qualquer modo ela existe.
Menos fácil de imaginar é a composição, o funcionamento dessa ‘ usina central’. A Kabalah hebraica resolveu o problema em uma palavra: ela declara que isto é Ain Soph, em outra palavra, inconhecível. Em linguagem industrial, poderíamos dizer: ‘entrada proibida’.
Assim, ela precisa a natureza dos segredos que o Epopta deve conhecer, para lhe ser permitida a entrada... É preciso que o indivíduo seja qualificado para entrar – da mesma forma que a proibição de passagem por uma porta, não interdita aqueles que têm esse direito... possuindo qualificação para cruzá-la. No entanto, a quantidade de chaves a possuir se traduz por uma quantidade de saber, naturalmente dependendo da inteligência do iniciado. Quando este for considerado apto para compreender, ele compreenderá, mais ou menos bem, em especial se fez suas lições e as reteve na memória, podendo-se servir-se das mesmas com maior ou menor grau de destreza. Em verdade, não basta apenas possuir as chaves que abrem as fechaduras ou conhecer as ‘palavras’ que permitem sua abertura – é preciso saber como manobrar cada chave[2].
Seguindo nisto, os gregos deram o nome de théos à ‘causa primeira da energia universal’. A raiz da palavra é DIF, com um digamma (sexta letra do alfabeto grego arcaico); dela se originou o latim divus, Deus,...; em sânscrito , produziu Deva...
Esta raiz evoca a idéia de clarão (na luz), portanto, de dia (no concernente à claridade) e, tendo fornecido o grego Zeus[3], dá também uma idéia de divindade.
Nisto consiste toda a teoria da Magia. O clarão da luz e aquilo a que os homens chamam de dia originam-se comumente, sem contestação possível, da luminosidade que o Sol esparge sobre a Terra. O que o sol possui é uma manifestação de energia. Ao ser dado o nome de théos à fonte primeira de energia, cada fonte secundária será tomada um théos, isto é, uma divindade, porque o apelativo assume caráter genérico. Daí a pluralidade dos deuses, quando paramos no panteísmo; daí, ainda, a multiplicidade das divindades inferiores, que se deve imaginar a fim de serem caracterizadas as fontes de energia derivadas, existentes na Natureza terrestre...” FAM
“No princípio criou Deus os céus e a terra.
E a terra era sem forma...
E havia trevas sobre a face do abismo;
E o Espírito de deus se movia sobre a face das águas[4]
E disse Deus: Haja luz. E houve Luz” [5] Gen. 1 – 1 a 3
FAM – Formulário de Alta Magia – P.-V.Piobb – editora Francisco Alves
[1] Do latim magister - mestre
[2] Isto fica mito claro em Êxodo cap.7 v 10 a 12- “Então Moisés e Aarão entraram...e lançou Aarão a sua vara diante do Faraó, e diante de seus servos, e torna-se em serpente. E Faraó também chamou os sábios e encantadores; e os magos do Egito fizeram o mesmo com os seus encantamentos. Porque cada um lançou sua vara, e tornaram-se em serpentes. Mas a vara de Aarão tragou as varas deles” e toda a seqüência desse relato indica claramente um duelo de magia entre Moisés e os magos egípcios.
[3] Zeus – Deus. O termo Zeus significa ‘iluminador’ ou ‘aquele que dá a luz’ .
[4] Águas - significa a matéria original ainda não diferenciada.
[5] Essa Luz criada, não é a luz solar, pois somente a partir do versículo 14, no 4° Dia da Criação é que foram criados os luminares – Sol , Lua e as estrelas.
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