sexta-feira, 16 de novembro de 2007

História e Religião



A História e a Religião estiveram sempre como que unidas, uma vez que a História de um povo está diretamente relacionada com a sua religiosidade e crenças; e até bem pouco tempo, (esta influência hoje ainda existe, embora com menor força), o clero e os sacerdotes mantinham em suas mãos o conhecimento, que era então transmitido aos fiéis.

As religiões, tal qual a Igreja Romana, sempre tentaram manter-se no poder político, econômico e intelectual, (os fiéis como “rebanho” seguindo seus pastores) e dessa forma, participou ativamente em vários episódios da História, como as Cruzadas, por exemplo. Por outro lado, o estudo que se segue, tentará avaliar o desenvolvimento da humanidade através de sua história e de sua religiosidade, suas crenças e dogmas, que influem diretamente sobre os valores que a sociedade tem desenvolvido através dos tempos.

É certo que cada sociedade, cada indivíduo, cada época, e cada civilização, compreendem a realidade e a Vida – em seu significado mais profundo – de acordo com suas próprias capacidades intelectuais, culturais e religiosas, dessa forma, tudo aquilo que foge da compreensão mediana, é taxado de absurdo, impossível, errado, e assim a humanidade caminha muito lentamente em termos de expansão de consciência, uma vez que tende estar constantemente amarrada a dogmas impostos, acatando sem compreender, pois são dogmas de fé cega e burra.

A proposta desse trabalho, é de pesquisa e reavaliação daquilo que a nossa civilização judaico-cristã, considera como “verdade incontestável”, dogmas esses ditados principalmente pela interpretação equivocada dos textos bíblicos que esbarram perigosamente com a lógica e a razão mais apurada.

Dr. Jung propõe, em “A Dinâmica do Incosciente”, a conquista de uma Cosmovisão:
“...Só podemos falar verdadeiramente de cosmovisão quando alguém formular sua atitude de maneira conceitual ou concreta e verificar claramente por qual motivo e para que fim vive e age dessa ou daquela forma. (DI-694)

Mas para que uma cosmovisão – perguntar-me-á alguém – se podemos viver perfeitamente sem ela? E poderia também perguntar-me: E para que uma consciência, se podemos viver muito bem sem ela? O que é, afinal de contas, uma cosmovisão? Na realidade, nada mais é do que uma consciência ampliada ou aprofundada. A razão pela qual existe uma consciência e por que esta última tende fortemente a ampliar-se e aprofundar-se é muito simples: é porque sem a consciência as coisas vão menos bem. Essa é, evidentemente a razão pela qual a mãe Natureza se dignou produzir a consciência, a mais notável de todas as curiosidades da Natureza... ( DI – 694)

A consciência superior determina a cosmovisão...Todo aumento de experiência e de conhecimento é um passo a mais no desenvolvimento da cosmovisão. E com a imagem que o homem pensante forma a respeito do mundo ele se modifica também a si próprio. O homem cujo Sol gira ainda em torno da Terra é diferente daquele cuja Terra é um planeta do Sol... O homem cujo cosmo está suspenso no empíreo é diferente daquele cuja mente foi iluminada pela visão de Kepler. O homem que ainda tem dúvidas quanto ao resultado da multiplicação de dois por dois é diferente daquele para o qual nada é mais certo do que as verdades apriorísticas da Matemática. Em outras palavras: É indiferente saber que espécie de cosmovisão possuímos, porque não formamos apenas uma imagem do mundo; esta imagem modifica-nos também retroativamente. ( DI – 696)

O conceito que formamos a respeito do mundo é a imagem daquilo que chamamos mundo. E é por esta imagem que orientamos a adaptação de nós mesmos à realidade..., pois não podemos ver o mundo sem ver-nos a nós próprios, e da mesma maneira como o indivíduo vê o mundo, assim também vê-se a si próprio...Por isso é sempre fatal não ter uma cosmovisão. (DI – 697)

Ter uma cosmovisão significa formar uma imagem do mundo e de si mesmo, saber o que é o mundo e quem sou eu. Tomado ao pé da letra, isto seria exigir demais. Ninguém pode saber o que é o mundo, nem tampouco quem é ele próprio. Mas, cum grano salis, isto significa o melhor conhecimento possível. Ora, o melhor conhecimento possível exige saber e detesta suposições infundadas, afirmações arbitrárias e opiniões autoritárias, mas procura a hipótese bem fundada, sem esquecer que qualquer saber é limitado e está sujeito a erros. (DI – 698)

...o inconsciente coletivo não é, de maneira alguma, um ângulo obscuro, mas o poderoso depósito das experiências ancestrais acumuladas ao longo de milhões de anos, o eco dos acontecimentos pré-históricos ao qual cada século acrescenta uma parcela infinitamente pequena de variações e de diferenciações. Como o inconsciente é um repositório do processo cósmico que se espelha, em última análise, na estrutura do cérebro e do sistema nervoso simpático, ele constitui, em sua totalidade, uma espécie de imagem intemporal e como que eterna do mundo que se contrapõe à nossa visão consciente e momentânea do mundo.... Eu considero o fato de o mundo ter não somente um exterior, mas também um interior, e de ser não apenas visível exteriormente mas agir soberanamente sobre nós em um presente intemporal a partir dos recessos mais profundos e aparentemente mais subjetivos da alma... (DI – 729)

...A nossa cosmovisão não é para o mundo, mas para nós próprios. Se não formarmos uma imagem global do mundo, também não podemos ver-nos a nós próprios, que somos cópias fiéis desse mundo... Só aparecemos na imagem que criamos... Nunca imprimimos uma face no mundo que não seja a nossa própria... Mas conhecemos melhor as profundezas do espaço do que as profundezas do nosso Si-mesmo[1] onde podemos escutar quase diretamente o palpitar da criação, embora sem entendê-la.” (DI – 738)





História


Segundo a classificação da História [2], o período anterior ao aparecimento das civilizações da Mesopotâmia e Egípcia – por volta de 4.000 anos AC – é considerado pré-história, porque somente a partir desse período o homem deixou “... seus primeiros testemunhos escritos...” segundo um autor de livro de História destinado à educação escolar.

Nesse mesmo livro, encontramos que o Egito surge em 3.300 a 3.200 AC., com o período do Antigo Império, que se estendeu até o ano de 2.300 AC. E, segundo conta a História, foi nesse período que forma construídas as Pirâmides de Gizé, erguidas pelos faraós para servirem de túmulos para eles mesmos.

Mas outros estudiosos afirmam que:
“ O Egito desde o começo apareceu maduro, velho e sem idades míticas e heróicas, como se o país jamais houvesse conhecido a juventude. Sua civilização não tem infância, e suas artes nenhum período arcaico. A civilização da Velha Monarquia não principia pela infância. Já estava na maturidade.”
Renan – citado em A Doutrina Secreta vol.III pg. 352

O Professor R.Owen diz que:
“Segundo os anais, o Egito já era uma comunidade civilizada e governada antes da época de Menes.[3]”
A Doutrina Secreta vol.III pg.352

E Winchel afirma que:
“ No tempo de Menes, os egípcios já formavam um povo civilizado e numeroso...Athotis, filho ...de Menis, fez construir o palácio de Menfis; era médico e deixou obras de anatomia”
A Doutrina Secreta vol.III pg.352

Heródoto – historiador grego de 480 a 425 AC – afirma em sua obra Euterpes que:
“...a história escrita dos sacerdotes egípcios remontava a uns 12.000 anos antes de sua época...”
DSIII pg.253.

Do mesmo modo, na Mesopotâmia, região entre os rios Tigre e Eufrates, no Oriente Médio, atualmente ocupado pelo Iraque, surge primeiramente a civilização dos Sumerianos seguida pela dos Caldeus, e culminando no Império Babilônico – 1.800 a 1.600 AC.

Sobre os sumérios pouco se sabe, textos cuneiformaes falam sobre deuses que vieram das estrelas, e de uma duração de vida de 456.000 anos, falam sobre o dilúvio, possuíam uma astronomia avançada, e o incrível poema épico de Gilgamés. Mais adiante falaremos sobre todas essas intrigantes questões.


Por hora é bom saber que:
“...no espaço geográfico de Súmer, há cerca de 40.000 anos, vivia um aglomerado de seres primitivos. De repente, por motivos até agora impossíveis de imaginar, lá estavam os sumérios, com sua astronomia, sua cultura e sua técnica.” EDA? - 41

A Souto Maior diz que:
“Historicamente o Oriente Próximo, é uma das regiões mais importantes da Terra, pois foi o berço das primeiras civilizações. No Egito e na Mesopotâmia o homem emergiu da noite do tribalismo para a luz da vida civilizada... E não poderia esquecer jamais que foi o Oriente Próximo o berço da fé cristã.”
História Geral pg. 17


“...H.A.Taine...declara que as civilizações das nações arcaicas, tais como a dos egípcios, arianos da Índia, caldeus, chineses e assírios, foram o resultado de civilizações anteriores...”
DSIII pg.352


Esse parece ser um enigma, pois fomos ‘condicionados’ a acreditar que:
1 - as Pirâmides foram construídas pelos faraós
2 - a América é o Novo Mundo descoberta e colonizada pelos Espanhóis e Portugueses,
3 - e quase esquecemos completamente, (até mesmo porque nos bancos escolares, essa informação não é dada), de que na América do Sul e Central houve civilizações que deixaram ‘vestígios bem concretos’ de serem altamente evoluídas, tal qual a Egípcia.

Entre elas podemos ressaltar genericamente:
Maias, Astecas e os Toltecas:

Antigos povos que habitou a região da América Central.
O último imperador asteca foi supliciado pelo conquistador espanhol Fernando Cortez, em 1520 de nossa era.


Astecas e Maias conheciam a medicina, a astronomia e seu calendário era mais exato, do que o dos espanhóis, que muito gentilmente, trataram de eliminar a concorrência.

Quichês
Povo que habitou a região que hoje é a Guatemala, deixando ruínas de templos e de pirâmides, além do livro do Popol Vuh, que relata de forma extraordinária a criação do mundo e da humanidade.

Incas
O Império Inca se estendeu por todo o território que hoje compreende o Chile e o Equador, e, foram também dizimados pelos espanhóis.

Quichuas
Uma das tribos do Império Inca que dominava no século XV do Sul da Colômbia ao Norte da Argentina, também tão civilizados que foram destruídos pelos espanhóis.

Todos ignorados pelos historiadores que se empenham em editar livros escolares onde a teoria de que a civilização se iniciou no Velho Mundo e daí se expandiu para a América Ásia, África e Oceania, o que é a mais deslavada mentira.

É certo que a civilização de hoje têm como ‘fonte’ ou raiz, a Europa, mais por meio de dominação e extermínio do que por meios de supremacia cultural. Os europeus, de modo geral, foram desde sempre os ‘colonizadores’ que invadiam, tomavam posse e exploravam as riquezas da nova colônia. Fizeram isso nas Américas, na África, na Ásia e na Oceania, em sua saga desmedida, em busca de riquezas.

As fiéis nações cristãs da Europa, não se intimidaram em invadir, matar e escravizar, como fizeram com os africanos em seus navios negreiros, comércio este que lhes encheram os cofres, e passando-se por piedosos, mandavam junto com suas esquadras padres e pastores para converter os pagãos das novas terras.

Passaram pelos quatro cantos do mundo, destruindo tudo aquilo que não combinasse com suas convicções religiosas e culturais e, com o advento da Igreja Romana... como escreve Helena Blavatsky:
“...desdobrou-se o fanatismo em ingentes e pertinazes esforços de obliterar todo e qualquer vestígio da obra mental e intelectual dos pagãos... adulterando sistematicamente todas as brilhantes páginas escritas nos períodos anteriores ao Cristianismo. A própria história, apesar de seus anais imperfeitos, conservou alguns fragmentos que sobreviveram àquele período, suficientes para lançar uma luz imparcial sobre o conjunto.

Que o leitor se detenha um instante em companhia da autora no ponto de observação escolhido, e concentre toda a sua atenção nos 1.000 anos que, correspondendo aos períodos anteriores e posteriores ao Cristianismo, se acham divididos em duas partes pelo ano Um da Natividade. Este acontecimento, seja ou não historicamente exato, constituiu-se o primeiro de uma série de baluartes levantados para se oporem a um possível retorno, e até mesmo à simples observação retrospectiva, das tão odiadas religiões do passado: odiadas e temidas, porque projetavam uma luz demasiado intensa sobre a interpretação nova e intencionalmente velada do que hoje se chama a “Nova Lei”.
[4]

...Se se atentar para os milhares e talvez milhões de manuscritos queimados; os monumentos reduzidos a pó com suas inscrições por demais indiscretas e pinturas de um simbolismo excessivamente sugestivo; a multidão de eremitas e ascetas que passaram a percorrer as ruínas das cidades do alto e do baixo Egito, os desertos e as montanhas, os vales e as terras altas, buscando com ardor obeliscos e colunas, rolos e pergaminhos pára destruir os que tivessem o signo do Tau [5] ou qualquer outro signo de que a nova fé se havia apropriado – compreender-se-á facilmente por que sobrou tão pouco dos anais do passado.

A verdade é que o obsediante espírito de fanatismo dos cristãos dos primeiros séculos e da Idade Média, como também ocorreu com os sectários do islamismo, preferiu sempre viver no obscurantismo e na ignorância. Uns e outros converteram.

.....o sol em sangue.
E fizeram da terra uma tumba,
Da tumba um inferno
ainda muito mais profundas trevas!

Ambas as religiões conquistaram seus prosélitos com a ponta da espada; ambas construíram seus templos sobre enormes hecatombes de vítimas humanas. No pórtico do século I de nossa era brilharam fatidicamente estas palavras ominosas: “O Carma de Israel”. Sobre os umbrais do XIX poderão ler os profetas do futuro outras palavras que farão referência ao Carma da história ardilosamente falseada dos fatos deturpados de propósito e dos caracteres caluniados ante a posteridade e destruídos até ficarem irreconhecíveis, entre os dois carros...: o Fanatismo e o Materialismo...” A Doutrina Secreta vol.I – 62/63



Outras “vozes” fazem eco à H.P.Blavastski, como a de Paulo Suess:


"Fueron tan atropellados y destruídos
ellos y todas sus cosas, que ninguna apariencia
les quedó de lo que eran antes." 
Bernardino de Sahagún, 1569
. Historia general de las cosas de Nueva España. 4 tomos, México, Porrua, 1981; 
aqui, tomo 1, Prólogo, p. 29.



Os discursos historiográficos do colonizador, do porta-voz e do Outro concorrem , na praça pública e nos livros escolares. Os três textos que seguem abaixo caracterizam as diferenças destes discursos que são, ao mesmo tempo, históricos e contemporâneos, complementares e excludentes.

"Saber lo que los mismos indios suelen contar de sus principios y origen, no es cosa que importa mucho; pues más parecen sueños los que refieren, que historias. Hay entre ellos comunmente gran noticia y mucha plática del Diluvio; pero no se puede bien determinar si el diluvio que éstos refieren, es el universal que cuenta la Divina Escritura, o si fué alguno otro diluvio o inundación particular de las regiones (...). Como quiera que sea, dicen los indios que con aquel su diluvio, se ahogaron todos los hombres, y cuentan que de la gran laguna Titicaca salió un Viracocha, el cual hizo asiento en Tiaguanaco, donde se ven hoy ruinas y pedazos de edificios antiguos y muy extraños, y que de allí vinieron al Cuzco, y así tornó a multiplicarse el género humano. (...) Mas ¿de qué sirve añadir más, pues todo va lleno de mentira y ajeno de razón? Lo que hombres doctos afirman y escriben es que todo cuanto hay de memoria y relación de estos indios, llega a cuatrocientos años, y que todo lo de antes es pura confusión y tinieblas, sin poderse hallar cosa cierta. Y no es de maravillar faltándoles libros y escritura (...). (...) Tenían por muy llano que ellos habían sido creados desde su primer origen en el mismo Nuevo Orbe, donde habitan, a los cuales desengañamos con nuestra fe, que nos enseña que todos los hombres proceden de un primer hombre."

José de Acosta, 1589 - Historia natural y moral de las Indias. México, FCE, 1985, p. 63s. Sahagún afirma que os náhuas, da Nova Espanha, através de suas pinturas antigas, têm uma memória histórica de pelo menos dois mil anos. Cf. SAHAGÚN, Bernardino de. Historia general, l.c., p. 29.


"Articular historicamente o passado não significa conhecê-lo 'como de fato foi'. Significa apropriar-se de uma memória, tal como ela relampeja no momento de um perigo. (...) Em cada época é preciso arrancar a tradição ao conformismo, que quer apoderar-se dela. (...) O dom de despertar no passado a faísca da esperança é privilégio exclusivo do historiador convencido de que também os mortos não estarão em segurança se o inimigo vencer. E esse inimigo não parou de vencer. (...) Nunca houve um monumento da civilização que não fosse também um monumento da barbárie. E, assim como a civilização não é isenta de barbárie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da civilização. Por isso, na medida do possível, o materialista histórico se desvia dela. Considera sua tarefa escovar a história a contrapelo."
Walter Benjamin -Sobre o conceito da história. In: Obras escolhidas, vol. 1, São Paulo, Brasiliense, 1985, p. 224s (da tese 6 e 7).


"Aqui nessa casa ninguém quer a sua boa educação
Nos dias que tem comida, comemos comida com a mão.
E quando a polícia, a doença, a distância ou alguma discussão nos separe de um irmão,
sentimos que nunca acaba de caber mais dor no coração
Mas não choramos à toa, não choramos à toa.
Aqui nessa tribo ninguém quer a sua catequização
Falamos a sua língua, mas não entendemos o seu sermão.
Nós rimos alto, bebemos e falamos palavrão.
Mas não sorrimos à toa, não sorrimos à toa.
Aqui nesse barco ninguém quer a sua orientação
Não temos perspectiva, mas o vento nos dá a direção.
A vida que vai à deriva é a nossa condução.
Mas não seguimos à toa, não seguimos à toa.
Volte para o seu lar, volte para lá."
Arnaldo Antunes  -


Ao justificar ou "desculpar" o passado, a historiografia apologética -- com seu modelo eclesiológico "Igreja, sociedade perfeita" -- traumatiza o passado, defende privilégios no presente e hipoteca sua credibilidade. Há outras maneiras de fazer história, que tampouco favorecem os Outros, colonizados porém não vencidos. Para o historiador evolucionista os diferentes projetos históricos dos povos desaparecem progressivamente no interior de um projeto único da humanidade. Já o historicista não se pronuncia sobre projeto ou futuro dos Outros. Ele é um grande colecionador. Junta dados e documentos de todos os cantos, mas não sabe priorizá-los. É vítima do mito de uma suposta objetividade e neutralidade científica.
....
O historiador enquanto porta-voz solidário, também é "missionário" de uma história de salvação/libertação. Tendencialmente procura acelerar o tempo e projetar seus sonhos ao passado. Chamar os "500 anos de história da Igreja na América Latina" de "Historia Liberationis", evidentemente, é uma destas projeções.[6] O "compelle eos intrare" (Lc 14,23) valeu tanto para a prática missionária de José de Anchieta, como também para a prática política da Revolução Sandinista, em sua primeira fase, frente aos Misquitos da Costa Atlântica.[7] Historicamente, tanto o medo de "perder almas" como a ameaça do "inimigo de classe" justificaram atitudes autoritárias que escureceram propostas "luminosas". Não há discursos historiográficos desinteressados, nem práticas "puras". Os interesses nos vinculam a determinadas causas e justificam nossas escolhas. Ao falar do que já foi, a causa do Outro exige que falemos do que está sendo e daquilo que pode vir a ser. Portanto, entramos num campo de sonhos e sentido, mas também de ideologias e poderes. O futuro pode ser pensado sem esperança para os Outros/pobres, como extensão das aforias sistêmicas do presente ou como incorporação em utopias previamente estabelecidas. Mas o futuro pode ser também pensado numa perspectiva de esperança, como "inédito-viável" (Paulo Freire) que emerge do "caos dinâmico" atravessado pela flecha do tempo.[9]

A história dos conquistados é ditada pelo conquistador; a história dos colonizados, pelos colonizadores; a história dos escravos pelos senhores e a história religiosa dos povos indígenas pelos missionários. Colombo e Cortés, Caminha e Carvajal, Las Casas e Acosta, Landa e Sahagún, Staden e Léry, Nóbrega e Anchieta, Evreux e Abbeville, Fernão Cardim e Vicente do Salvador, Sandoval e Benci - eis os primórdios da historiografia do continente latino-americano e seus referenciais para a história dos povos indígenas e dos afro-americanos, dos pobres e dos excluídos.

Alguns textos -- Popol Vuh e Chilam Balam -- testemunham o outro lado da história. História? Povos sem escrita não têm história, diz a historiografia oficial. A situação em que os índios se encontravam que habitavam o solo brasileiro, segundo Varnhagen, "não podemos dizer de civilização, mas de barbárie e de atraso. De tais povos na infância não há história: há só etnografia. A infância física, é sempre acompanhada de pequenez e de miséria".[9] Fala, através de Varnhagen, a Europa ilustrada. Escutemos o que um espírito tão esclarecido, como Friedrich Schiller, em 1789, em sua aula inaugural como professor de história em Jena, sobre o tema "História universal com intenção de cidadão mundial" declarou:

"Os descobrimentos (...) nos mostram populações deitados em torno de nós nos mais diversos degraus de cultura, como crianças de diferentes idades em torno de um adulto (...). Como é vergonhosa e triste a imagem que estes povos nos transmitem de nossa infância! (...) Mesmo assim, os períodos mais diferentes da humanidade dirigem-se à nossa cultura, como as partes mais distantes do mundo se dirigem ao nosso luxo".[10]

A memória antiga do continente -- o que significam os 500 anos frente aos milênios de presença humana nas Américas? -- ficou guardada na cultura oral dos seus habitantes. Alguns antropólogos escreveram a história de povos autóctones antes, fora e depois da conquista, codificada em seus mitos e reinterpretada por cada narrador. Esta etnohistória que não se deve confundir com a etnografia de Varnhagen, despertou pouco interesse entre os historiadores, preocupados com a chamada história universal. Povos sem história só se tornam povos com história pela incorporação nos mitos e na história (de salvação) universal. Frente ao dilúvio da Bíblia, o dilúvio da mitologia indígena se torna uma "inundação particular". O mito de Édipo é um explicador universal, o de Macunaima uma curiosidade regional de uma tribo indígena no norte do Brasil. Mas esta "história universal" oferecida para a recuperação histórica dos Outros não é a soma de múltiplas histórias. É apenas a extensão da história de uma região dominante para as demais. Heródoto se torna o pai da historiografia universal. Mas esta história universal é extensão da história européia sobre o mundo e a incorporação da história dos Outros numa história particular dominante. Esta incorporação tem conseqüências sérias para o projeto específico de cada povo, porque transforma o presente de uma região dominante em modelo do futuro das demais. Frente aos Outros/pobres da América Latina, a "história universal" é a expressão historiográfica macroestrutural de sua colonização.



Para ler o texto em sua íntegra é só acessar o link acima.



Erich von Däniken em seu livro “Eram os Deuses Astronautas” escreve o seguinte:
“Ainda sabemos muito pouco de nosso passado... Nossos achados podem decifrar antigos enigmas, a leitura de relatos arcaicos pode virar de pernas para o ar mundos inteiros de “realidades”. E sabemos que, infelizmente, muitos mais livros antigos foram destruídos do que conservados. Na América do Sul consta haver existido um grande livro que continha toda a ciência da Antiguidade; dizem haver sido destruído pelo 63º soberano dos Incas, Pachacuti IV. Na biblioteca de Alexandria, 500.000 volumes pertencentes ao sábio Ptolomeu Sóter encerravam todas as tradições da humanidade; essa biblioteca foi destruída, em parte pelos romanos, e o resto, o califa Omar mandou incinerar, séculos mais tarde. É terrível saber-se que esses manuscritos preciosos, insubstituíveis, tenham servido de comestível para aquecer água nos banhos públicos de Alexandria!

Que fim levou a biblioteca do templo de Jerusalém? Que foi feito da biblioteca de Pérgamo, que deve ter reunido 200.000 obras? Quantos tesouros e segredos foram perdidos em conseqüência da destruição em massa dos livros históricos, astronômicos e filosóficos, ordenada pelo imperador chinês Chi-Huang, no ano 214 antes de nossa era, por motivos políticos? Quantos textos o convertido Paulo mandou destruir em Éfeso? E nem se pode pensar na imensa riqueza, em escritos sobre todos os campos da ciência, que se perdeu por causa do fanatismo religioso! Quantos milhares de escritos irrecuperáveis, monges e missionários, em seu sagrado zelo cego, mandaram queimar nas Américas do Sul e Central?

Tal sanha destruidora data de centenas ou milhares de anos. Aprendeu a humanidade algo com isso? Há poucos decênios, Hitler mandou incinerar livros em praças públicas, e até no ano de 1966, o mesmo ocorreu na China durante a infantil revolução de Mão. Graças a Deus, hoje em dia, os livros não existem, como nos tempos de antanho, em um só exemplar.” EDA? - 88



Mas, como o próprio lema adotado pela Sociedade Teosófica diz:

“Não há religião superior à Verdade.”

E a História Oficial e as Igrejas, terão, o seu carma a resgatar, e a Verdade, acabará por aparecer por dentre os escombros deixados pelos dominadores do mundo.

Felizmente, como a Verdade sempre aparece, ou melhor dizendo, ela nunca deixa de existir, apesar de esforços feitos ao contrário, nem todos os manuscritos foram destruídos, nem todas as obras foram perdidas, nem todos os monumentos e obras arquitetônicas foram reduzidas a pó, e a História poderá ser reescrita, a partir do que sobrou.




[1] A nossa essência mais profunda
[2] As referências à História são em relação àquilo que é comunicado particularmente aos estudantes, onde é exaltado uma nação ‘colonizadora’ que vem para trazer cultura e civilização para os pobres povos pagãos e ignorantes., e não Á história e historiadores sérios que tentam verdadeiramente investigar, sem predileções por este ou aquele povo. A pesquisa feita foi propositadamente em livros destinados à educação escolar de segundo grau.
[3] Menes – primeiro faraó do Antigo Império
[4] O Novo Testamento.
[5] a mais antiga forma desta letra (T) símbolo usado pelos Lemurianos
 [6] DUSSEL, Enrique (org.). Historia liberationis. 500 anos de história da Igreja na América Latina. São Paulo, Paulinas/Cehila, 1992.
[7]. ANCHIETA, José de. Carta ao P. Diego Laynes (de S. Vicente, 16.4.1563). In: LEITE, Serafim. Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil. 3 vols., São Paulo, Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, 1954, vol.3, p. 554.
[8]Cf. PRIGOGINE, Ilya/STENGERS, Isabelle. Entre o tempo e a eternidade. São Paulo, Companhia das Letras, 1993.
 [9] VARNHAGEN, Francisco Adolfo de. História geral do Brasil. 3 vols., São Paulo, Melhorametos, 1978, aqui vol. 1, p. 30.
 [10]. SCHILLER, Friedrich. Was heißt und zu welchem Ende studiert man Universalgeschichte? Eine akademische Antrittsrede (1789). In: HARDTWIG, Wolfgang (org.). Über das Studium der Geschichte. München, DTV, 1990, p. 19-36, aqui p. 24.











Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...